sábado, 29 de novembro de 2008

Não Faça Nada

Tenho chagas em minh'alma
sou feito tristeza e solidão,
caio como um infante imaturo.

De minhas feridas não recordo
perco todos os sentidos, perco-me,
percorro os sentimentos.

Não acho minha identidade
só, como pastagens,
dentro do meu coração.

Sou podridão num saco, morto,
ressucito meus gostos, tolos,
sem nenhum sabor.

Estou insatisfeito, do meu peito
efervesse ingratidão, paixão,
vaidade. Desejo.

Estou inerte neste leito
mas todo castigo mereço,
tenho todos os defeitos.
Sou imperfeito.

Lucas Matos

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Força Bruta

Joguei-me em alto mar,
de uma catapulta,
queria até morrer.

Mas foi por um segundo,
quando eu vi você
eu desisiti
e me afoguei em ti.

Abruptamente lancei-me em teus braços
tão aconchegantes, que me perdi em laços
mais extensos que o mar.

E de tanto navegar em ti
criei limo, eu fui o seu navio
e quando puxei a âncora,
eu me senti vazio. Coisa de pirata.

Tomei de ti um beijo
que me prendeu à vida,
e não encontrei saída:
só me restava te amar.

Lançado de uma catapulta
meu coração gostou e hoje exulta,
pois encontrou a porta e a saída.

Lucas Matos

Exígua

Tenho poucos segundos de vida.
minha alma,
esse acúmulo de dor,
resiste, mas como a flor
um dia deixará sua beleza.

Meu perfume não agrada mais
meus ciúmes são bobagens,
meu ser já não existe.

Pouco a pouco caio
em um quarto, de segundo nível,
pranteio, soluço, tenho pouco tempo
de vida.

Minha respiração acaba, sufocado
tento não gritar, e essa dor
que me parte, me sangra
como a todo homem amado.

Sou o oposto de mim agora
quase não me suporto, falho
não sou herói da vida,
desisto.

Mas há alguém que me consola
ainda que eu chore angustiado
perdido, frustrado,
há uma mão que acaricia.

E nesta esperança meu corpo,
cansado, encharcado de lágrimas
exulta, e esse pouco tempo
parece não ter fim,
é como se me invadisse a mim,
e encontrasse descanso.

Nestes poucos segundos de vida.

Lucas Matos

Para Não Falar da Beleza

Desses olhares que me lanças
me parte, e as minhas lembranças
são revividas.

Deste teus olhos, pequenos
contemplo a felicidade
tão bela, singela, virgindade
perdida em um sorriso.

Destes teus lábios, morenos
saíram palavras sinceras
tão lindas, infindas pétalas de batom.

Desta face, radiante
desse olhar penetrante
eu me esquivo,
para não falar da beleza.

Lucas Matos

Saudade

Como uma bolha, um calo
no peito, eu não sinto,
eu não penso direito
eu sofro, falho.

Quero de volta o passado
Mas esse tempo, trapaceiro,
se esvai, e vai depressa
nem me espera, apressado.

Sinto que não vou suportar.
Me corrói os olhares, os perdidos,
parte meu coração,
e ferido,
parto os deles também.

Há algo que nos une, eternamente
sinceramente... não posso voltar.
Sou de poucas palavras, não vou dermorar.
É apenas saudade, talvez passe,
eu não vou esperar.

Amanhã, noutra sala, sem terno
posso demonstrar ternura
cantar outros hinos eternos,
ensinar partituras, chorar.

Qualquer dia, eu volto, amigos
guarda isto no peito, consigo
já estou partindo, em pedaços.

Lucas Matos

Correspondências

Mando-me em carta
em um envelope tão bonito
selado, apaixonado te escrevo
começo uma prosa,
termino poesia.

Quando me lê, extasio-me
fantasio um prazer,
Quando sou eu,
nessa carta, quero ser você.

Mande para o meu coração
um sorriso, um abraço,
um beijo... faz um laço bonito.
E me guarda em sua agenda.

Depois rasga minha boca
com seus lábios,
e me diz se minhas palavras
não te conquistaram.

Mando-me, aceite meu amor.

Lucas Matos

Templo

Já fui em muitas catedrais
em todas me ajoelhei
sangrei de tanto chorar
griteu seu Nome,
mas só ouvi o silêncio.

Rezei um terço inteiro
e no quarto,
até um mantra recitei
no ato,
não senti nem arrepio.

Prostrei-me ante a Tua imagem
um pagem me benzeu
e eu,
não senti o Teu amor.

Jurei ser Teu, fiz celibato
tentei até manter contato,
mas estava longe demais
não ouvi.

Tentei tirar de mim a vida
e quando não tive mais saída
eu pensei: não vou parar.

Concertei minha vida, o Templo
me arrependi dos maus intentos
lembrei de todos os momentos
que Tu, Senhor, tentou mostrar
que eu não merecia te ver
ou encontrar, a almejada vida eterna
e senti Tua mão sempre terna, a me acalentar.

Voltei aos Teus braços abertos
e, bemde perto, comecei a chorar.
Tu, Senhor , estava sempre comigo
foi o meu único amigo,
que me ouviu, quando eu precisava calar;
que me acolheu, quando eu precisava chorar;
que me abraçou, quando eu precisava apanhar
O Senhor me escolheu, quando poderia recusar.

Por isso hoje, Deus meu
Toma este Templo, vem comigo morar.

E. S. & Lucas Matos